27 de ago. de 2009

É com satisfação que pego esta caneta para escrever estas mal traçadas linhas, dar as nossas notícias e ao mesmo tempo saber as suas


Quando recebo uma carta, dentro dela vem a tinta, a caneta, os dedos e mais um pouco do remetente.
Para mim, a carta é um pedacinho material das nossas relações. É algo em que se põe energia vital, pouco importa o assunto, a distância ou o destino.
Não importa sequer que a carta chegue. Quantas correspondências eu já não escrevi, enfeitei, envelopei e guardei comigo...
Tem também as que não saem do carderno de rascunhos. Tenho medo de me desapegar de certas coisas.
Me lembro que quando eu era pequena minha mãe escrevia por alguns conhecidos que não sabiam.
A moça vinha com aquele envelope amassado, rasgado do lado, cheio de carimbos e selos. Minha mãe lia para ela, depois pegava um caderno grande, daqueles que eu sempre queria levar para a escola mas ainda não podia, e pegava uma caneta, testava na capa do caderno e se sentava em frente a amiga.
Reliam a carta parágrafo por parágrafo e minha mãe ia perguntando a resposta e escrevendo com sua letra bonita. A amiga, a pesar de não entender as palavras, sempre elogiava sua letra.
Depois ela tomava o lugar do remetente perguntando mais coisas que não estavam na carta e completando antes de copiar as coisas escritas do envelope velho e guardar com carinho a carta recebida lá dentro denovo.
Agora o contemporâneo suprime o material, ao mesmo tempo que consome o clássico, o vintage, o retrô, como queira... Mas não tem jeito, a imitação é imperfeita, olha só, a gente começa e termina tudo on-line. Deve ser uma doença dos novos (nossos) tempos.
Receber as cartas deste jogo me relembrou a ansiedade da infância para saber que segredos carregavam aqueles envelopes lacrados, que de tão importantes eram carregados por alguém especial até a porta de nossas casas, entregue em mãos ou espremidas no vão do portão.
Termino por aqui, espero que esta carta te encontre com saúde e paz. Aguardo ansiosamente sua resposta.
Com amor.

Amanda Prado

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